O peso da coroa aos 25 Para a revista Máxima; Dezembro 2016. Entretanto a série recebeu um Globo de Ouro. Chama-se The Crown, assim mesmo em inglês, e transporta-nos para os anos 1950, quando uma jovem Isabel se vê a braços com uma missão para a vida: o trono britânico. Falámos com os dois protagonistas e o criador da série de orçamento recorde e que a Netflix leva a 190 países. 'Queen calm and carry on'. Uma emocionante, épica e sumptuosa lição de história. Assim se pode resumir a série The Crown, lançada pela Netflix a 4 de novembro nuns inéditos 190 países em simultâneo (incluindo Portugal) e com o apoio de um orçamento de 100 milhões de euros que permitiu, como nos explicou o seu criador, Peter Morgan, “fazer uma espécie de filme épico de 10 horas, dividido em 10 episódios”. “Não é tão fácil quanto parece”, diz na altura em que experimenta a coroa, antes da coroação, a futura rainha Isabel II (Claire Foy) num dos episódios de The Crown. Essa dificuldade, como podemos ver episódio após episódio da série, não diz respeito apenas ao peso da coroa. É uma metáfora para “uma mulher que viu cair no seu colo um país” e, aos 25 anos, “teve de perceber o seu papel como mulher casada, como rainha e de entender o país”. Daí que, para Peter Morgan, ela seja “a mulher visível mais invisível do mundo”. Aos 32 anos, Claire Foy assume o “desafio da vida” depois de uma formação em teatro em Oxford, de ter sido protagonista em várias séries da BBC (fez, inclusive de rainha Anne Boleyn na série Wolf Hall) e de participações na série da americana Crossbones, ao lado de John Malkovich, e no filme Época das Bruxas (2011), ao lado de Nicolas Cage. Bem alegre e entusiasta, feliz por fazer parte desta aventura épica com tantos “pormenores históricos deliciosos”, Claire Foy entra na sala ao lado do marido na série, o brincalhão, irónico, estrela de rock Matt Smith. Munidos de um tabuleiro com bule de chá, chávenas, filtro, leite e, claro, biscoitos, “continuamos um casal de realeza na hora de servir chá”. Enquanto sorriem e pedem desculpa, “venham as perguntas”. “Isto é basicamente o que acontece em casa com a realeza”, brinca Matt. Encontrar a voz Claire foi a eleita depois dois meses de busca e castings com 12 das melhores atrizes da sua geração. “Havia uma química natural entre ela o Matt”, explicou-nos Peter Morgan, ele que também escreveu o filme que deu o Óscar a Helen Mirren, A Rainha, mas também pérolas como Frost/Nixon, O Último Rei da Escócia, Rush – Duelo de Rivais ou Duas Irmãs, Um Rei. “O Matt é um macho alfa. Há um perigo nele, pode ser imprevisível, amoroso ou malandro, tal como o príncipe Filipe”, admite o criador da série, Peter Morgan, que vê em Claire um lado contido “e avesso ao conflito”. Para a atriz que cresceu sem mordomias em Manchester e Leeds e que é a mais nova de três irmãos: “tentei não pensar muito no facto de estar a interpretar a mulher mais famosa dos últimos 50 anos”. Além dos guiões de Morgan, que escreveu todos os 10 episódios, Claire e Matt viram vários vídeos caseiros do casal, bem como as notícias da época. A ajudar nas gravações e fora delas tinham uma “académica brilhante” que “resumia documentos de 1400 folhas em apenas duas ou três” para ajudá-los. “Tentei encontrar a voz, os maneirismos. Estamos acostumados a vê-los num pedestal e aqui foi um processo interessante de os ver como seres humanos, repletos de dúvidas e sentimento de missão”, revelou a atriz que estudou um ano teatro em Oxford e que, admite, em adolescente chegou a pensar casar-se com o príncipe Guilherme. No entanto, a maior surpresa para ambos na pesquisa feita foi a vida incrível do príncipe Filipe antes do casamento. “Há tanta informação da vida do Filipe, ele passou por vários países, teve de fugir da Grécia em segredo com a família e viveu em França, Alemanha e Reino Unido. É um homem fascinante que fez coisas fascinantes e isso eu não fazia ideia”. Matt Smith, celebrizado por participar na série Doctor Who, que lhe valeu um prémio BAFTA em 2011, não tem dúvidas em considerar Isabel e Filipe como “almas gémeas”: Numa altura de casamentos arranjados, “eles casaram-se por amor”. Muita tinta em jornais depois, a imagem do casal real passou por várias fazes e o príncipe Filipe é pouco popular nos dias que correm. “A imprensa tem sido injusta com eles e em particular com Filipe. Fiquei com mais compaixão por eles. A série ajuda a perceber a sua viagem repleta de dilemas como família e a nossa viagem com eles como país”. Relação de poder Há ainda o reflexo do poder na relação do casal real. Isabel, aos 25 anos e com o casamento na sua infância viu cair-lho no colo um país. Peter Morgan explica que a jovem “teve de perceber o seu papel como mulher casada, como rainha e de perceber o país” numa das alturas mais desafiantes para a Europa no século XX. “Foi muito duro para ele passar a ser secundário. Quando Jorge VI morre, ele tem de abdicar do seu apelido para que a família pudesse continuar a ser Windsor, teve de deixar o seu cargo na Marinha e renunciar à sua família real”, explica Matt Smith. O ator continua sem perceber porque o príncipe tinha de andar atrás da rainha em locais públicos, já que quando havia um rei a rainha não o tinha de fazer. Claire explica que Isabel II nunca quis que o marido abdicasse de tanta coisa mas as convenções assim o exigiam. “Esse era o lado que ela menos gostava do cargo. Ela viu o quão as imposições eram castradoras para a família. Feminista ou não, ela basicamente queria fazer o marido feliz e as coisas que o faziam feliz ela não lhe podia dar”. Muitos na altura viram-no como a mulher do casal e ela como o homem. “Acho que eles não tinham pensado como iriam agir quando se vissem na situação dela ser rainha e quando surgem as imposições não sabem como lidar com elas”. Claire Foy admite ter parecenças com a rainha Isabel II. “Ela não gosta de magoar pessoas, tem problemas em lidar com o confronto e tenta não dizer as coisas erradas mas por vezes diz mesmo o que não deve, tal como eu”. Embora as épocas em que ambas foram jovens fossem bem diferentes. “Como rainha ela não podia mostrar emoções, não podia chorar se se sentisse triste, tinha de genuinamente de se manter calma e continuar (famosa expressão inglesa, ‘keep calm and carry on’)”. A SABER O reinado mais longo Com a morte do rei tailandês Bhumibol Adulyadej, em outubro, a rainha Isabel II tornou-se a monarca do planeta com mais tempo de reinado. Adulyadej era dois anos mais novo que a atual rainha da Commonwealth, que tem 90, foi coroado com 19 anos e reinava desde 1946, há sete décadas. Isabel II já leva 64 anos no trono, tendo começado aos 25. O seu pai, Jorge VI, morreu em fevereiro de 1952 e, por sugestão se Winston Churchill (interpretado pelo norte-americano John Lithgow na série), ela só viria a ser coroada a 2 de junho de 1953, mais de um ano depois. Outro dos recordes que ostenta é o maior reinado de um monarca britânico bem como o de monarca com maior longevidade. Entre inúmeras crises, mortes de familiares e pressões mediáticas, ela continua a ter taxas de aprovação em sondagens no Reino Unido superiores a 80%. A monarquia britânica parece manter-se saudável. O casamento ‘platinado’ Se há lição que os protagonistas de The Crown tiram do intenso estudo sobre a rainha Isabel II é que o seu casamento com o príncipe Filipe foi por amor. “Eles amavam-se profundamente e isso ainda tornou pior o facto dela se tornar monarca mais cedo do que previsto”, diz-nos Peter Morgan. Filipe pertencia às famílias reais da Grécia e da Dinamarca, nasceu na ilha grega de Corfu a 10 de junho de 1921 – tem 95 verões, mais cinco do que Isabel, com 90 primaveras (nasceu em abril de 1926). Ambos conheceram-se pela primeira vez em 1934, quando ela tinha apenas 9 anos – são primos em terceiro grau –, e começaram a corresponder-se quando ela tinha 13 anos e ele era um adolescente de 18. Nessa altura ele já vivia no Reino Unido e tinha-se juntado à Marinha inglesa, após um percurso que começou com o exílio ainda criança para França, seguindo-se depois a Alemanha. Depois de ter participado na II Guerra Mundial, casou-se com a princesa Isabel a 20 de novembro de 1947, depois de um noivado de cinco meses e de ter a permissão do rei Jorge VI. O casamento obrigou-o a abandonar os títulos das famílias reais da Grécia e da Dinamarca e passar a adoptar o nome dos Windsor. É precisamente em 2017 que o casal comemora as bodas de platina, graças a 70 anos de casamento. Comments are closed.
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Agosto 2022
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