«Os miúdos suportam-me»
(entrevista feita para o programa de cinema da SIC Notícias, 35mm, em 2009 e também publicado no jornal Destak em dezembro de 2009)
Ao entrar numa sala de suite de hotel de Beverly Hills, toda decorada com projectores, câmaras e afins, ouvimos Sinatra na aparelhagem e uma voz característica a cantar Come Fly With Me. E do quarto para a sala surge Robin Williams, sorridente mas com ar cansado. Afinal, já tinha dado dezenas de entrevistas só no dia de hoje e a nossa era a última.
O motivo era o filme 2 Amas de Gravata mas, felizmente, a conversa breve foi além da comédia que estreia agora em Portugal, ou não fosse 'mr' Williams uma lenda do cinema. Antes da primeira pergunta já o incrível comediante e actor dominava a conversa e entrava no modo 'comédia de improviso', num estilo tão divertido para quem assiste como frenético e intenso. Robin Williams acaba por mostrar que é um homem de comédia e de muita melancolia. No fim de contas o 'Captain, My Captain' parece ser o retrato dos filmes tão díspares que já fez: Popeye e Clube dos Poetas Mortos, Bom Dia Vietnam e o Rei Pescador, Hook e Hamlet, Papá Para Sempre e Jack, Flubber e O Bom Rebelde. Bryan Adams fez a banda sonora do filme e já tinha feito noutro seu, Jack. Está a persegui-lo? Quem é Bryan Adams? A sério, não faço ideia. Ele não me está a perseguir de modo algum, porque tenho total falta de conhecimento sobre ele (risos). Neste momento vou ter de me chicotear porque não conheço o nome. (Risos) Vamos então partir para a sua relação com John Travolta. Acha que ambos se complementam? Acho que sim. Somos um bom ying e yang. Complementamo-nos. [Começa a cantar] Tu completas-me, de uma forma que mesmo assim não conheces o Bryan Adams. Cala-te Robin, deixa estar [em voz fina]. Sim, sem dúvida, o John é um homem tão generoso e carinhoso e já disse isto uma vez antes, na verdade quatro vezes... ele é o equivalente humano de um panda. Apetece chamá-lo "vem cá!". É destemido, divertido, mas também é um excelente actor. A comédia dele é um pouco diferente da sua, não é? Não é tão azul [triste]. Tenho tendência a ir um pouco abaixo e ele diz-me sempre "fica aqui na luz, fica comigo não te vás abaixo". Isso ajuda, porque traz-me de volta e digo [voz tristonha e infantil] "tens razão, não temos de ficar azuis, mas seria divertido". É tão simpático e generoso que fez vir ao de cima o meu lado bom. Está sempre a cativar-nos para experimentarmos coisas novas. Neste filme não tem jeito nenhum para crianças... muito diferente de si, não? Eu sou OK com os miúdos. Os miúdos pequenos suportam-me desde que… Uma vez estava a ler uma história à minha filha e ela disse "não faças as vozes, lê apenas a história". Fiquei surpreendido, mas a verdade é que com miúdos pequenos não podemos exagerar. Se fizermos algo muito louco eles não gostam. Por isso é que os miúdos não gostam de palhaços. Primeiro, parecem alcoólicos mortos. Segundo, aparecem assim [grita projectando a cara com sorriso forçado] "ei, eu vou divertir-me contigo". E os miúdos dizem [voz fina e infantil]: "tu assustas-me, tu és um pedófilo com grandes sapatos". O que funciona é divertirmo-nos com eles. Se começarmos de forma simples, podemos ir subindo e ir fazendo vozes. Eles exigem que sejamos muito honestos com eles. E estarmos concentrados, estarmos mesmo lá com eles, e não inventar coisas como: "tenho de atender esta chamada"; [voz final infantil] Não, não tens, os teus negócios estão na falência. Estás a investir no Google" - "Sim"; - "Não o faças". Tem inveja do Seth Green por causa da longa cena dele com um gorila gigante? De modo algum. Por acaso já tive um verdadeiro encontro. Conheci Coco, a gorila que faz linguagem gestual. Primeiro apertou-me os mamilos, o que… [risos] não é nada mau, deixe-me que lhe diga. Se tiver um gorila que lhe aperta os mamilos, aí está uma história para um bar. O tipo vai e diz "Sabem, uma vez estava com um anão". E vou eu e digo, "Ah é? A mim um gorila apertou-me os mamilos e foi bom". Dão-nos logo outra rodada [risos]. E a Coco tentou levar-me para o quarto dos fundos, o que foi um pouco o que acontece com o Seth no filme. O treinador estava a fazer sinais à Coco, a dizer [faz linguagem gestual]: "Coco, não, nada de truca truca Coco". Ele depois ainda me diz, que se ela me levar para o quarto dos fundos não me podia ajudar - ficaria descontrolada. Ouvia-se apenas: "Nãaaaooooo" e "Uh-uh-uh". Não fiquei ciumento. Disse apenas ao Seth… "já estive aí, vaca". Para terminar, sabe imitar um português? Conheço a língua, mas normalmente dou um toque brasileiro. Há uns anos tivemos um babysitter brasileiro, um homem chamado Alfredo Pedroto. E dizia sempre [fala em português]: "Robbie, tudo bem? Obrigado, boa noite". É mais brasileiro, sei disso. E aprendi a palavra [diz em português] "bom tempo". Em brasileiro tudo o que dizemos tem um tom do tipo "bom tempo". Perguntamos [em português] "o que vais fazer?"; "shiu, bom tempo, tudo bem Robbie, obrigado. Como vai você? Tudo bem". Vou lá ao Brasil para os Jogos Olímpicos. Sabes para quê? Para o espectáculo de depilação [faz barulho de depilação a cera e simula depilar as pernas com as mãos]. Boa sorte. -------------------------------------------------------------------- Clube dos Poetas Mortos Já fez filmes tão diferentes uns dos outros. Ainda se sente às vezes Captain, My Captain [referência à personagem John Keating, do filme Clube dos Poetas Mortos]? Totalmente. Quer dizer, sinto-me tão orgulhoso desse filme em termos do que é e do que significa para mim. Mas também como um filme que pode mudar a vida das pessoas, como alguém uma vez disse. Foi a primeira vez que eu fiz um filme em que houve pessoas a chegarem-se a mim e a dizer que se tornaram professores por causa daquela personagem. E eu fiquei sem palavras… é uma escolha corajosa, especialmente na América onde não lhes pagam. Por isso… é mesmo um grande orgulho. Obrigado. O adeus a mr Williams: Oh Captain My Captain
(comentário em blog após a morte de Robin Williams)
São tantos os momentos e filmes memoráveis que Robin Williams nos deixa. Ele deu tanto a tantas histórias e personagens que me marcaram... Fiquei fã logo com o Bom Dia Vietnam (e lembro-me dele no Popeye!). Era perito na comédia física e desenfreada mas tinha uma solidão e sensibilidade nele muito grande. Foi isso que o tornou um dos grandes no cinema, a capacidade do drama. Dava entrevistas loucas, atirava os foguetes e apanhava as canas sozinho. Era de um talento humorístico natural impressionante, um mestre do improviso. Mas a espaços dava para perceber como usava o humor louco como subterfúgio para esconder o seu 'eu' mais só e complexo. Nunca o vi como Mork, a personagem da tv americana que o celebrizou por lá. Mas nunca o vou esquecer por filmes tão diversos como... - Bom Dia, Vietnam!!! - O Clube dos Poetas Mortos (um filme que mudou a minha vida, e Keating foi o melhor professor que tive) - Despertares (o médico dos malucos com um coração gigante) - O Rei Pescador (o maluco de NY com capacidade de nos fazer sonhar) - Hook (o Peter Pan (im)perfeito) - Toys - O Fabricante de Sonhos (o homem-criança no seu habitat, uma fábrica de brinquedos) - o filme é fraquinho - Papá Para Sempre (Mrs. Doubtfire só podia ser interpretada por Williams... O pai que eu quero ser) - Gente como Nós - até um filme fraquito como este teve bons momentos - Jumanji - Jack (Williams criança preso no corpo de um adulto, perfeito para ele) - O Bom Rebelde (ele e Matt Damon fazem o filme... Psicólogo com sensibilidade e bom senso) - O Homem Bicentenário - Câmara Indiscreta - Insónia - House of D - O Melhor Pai do Mundo (quando achamos que Williams já não nos podia surpreender, ele volta a superar-se) RIP Comments are closed.
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Agosto 2022
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