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entrevista a António Fagundes

18/1/2017

 

“O teatro tem essa magia que nos move”

Imagem
(entrevista de setembro de 2014, para o Destak; foto João Ferrão)
​

António Fagundes junta-se ao filho Bruno para dar vida à peça Tribos, que estreia dia 10 no Teatro Tivoli, em Lisboa. António, pai, «ama» Portugal.


Unidos profissionalmente pelo teatro, António Fagundes (pai, 65 anos) e Bruno (filho, 25 anos) juntam-se pela terceira vez (uma delas foi já este ano numa novela), na peça Tribos. Ao Destak falam na relação profissional saudável entre os dois e na paixão mútua pelo teatro.

Como surgiu a ideia para fazer esta peça, Tribos?
Bruno – Já tínhamos feito a peça Vermelho em conjunto [com o pai], no Rio de Janeiro. Vermelho foi ele que me convidou para participar. Tivemos uma pausa na peça, fui a Nova Iorque e escolhi quase sem querer ver uma peça chamada Tribes. Apaixonei-me perdidamente e resolvi que queria muito fazê-la. E aí convidei o meu pai.

O Bruno é o único dos quatro filhos que seguiu a profissão, mas não era um dos objetivos que os filhos seguissem as pisadas, pois não?
António – Nunca procurámos isso, mas ao mesmo tempo não excluímos. Sempre fizemos questão que eles tivessem acesso ao maior número possível de informações. Tocar instrumentos, aprender línguas. Abrimos as portas para que eles exercitassem o talento deles, fosse qual fosse.
Bruno – Uma das coisas que mais gosto olhando para a nossa educação foi essa, eles nunca nos impuseram nada, nunca nos empurraram para nada só nos deram ferramentas para cada um seguir o seu caminho. E todos fazemos coisas diferentes.
 
O teatro é algo que faz parte da carreira do António desde o início. Gosta de voltar sempre, de tempos em tempos, ao teatro? É a base?
António – Eu diria que é algo da qual eu nunca saí, não tem volta (risos). A ideia é que a minha profissão é fazer teatro, o resto é bico (risos), são extras. É no teatro que o ator se exercita, é no teatro que ator erra. É no teatro que ele ousa, onde ele estabelece a verdadeira relação com o público, porque é ao vivo. Está na mão dele essa comunicação. O teatro é a arte do autor e do ator. A televisão, o cinema, os outros veículos eles acabam por envolver outras tecnologias, outros intermediários que nos afastam um pouco do público, de certa forma. O teatro não. Somos nós e o público, diariamente com uma plateia diferente e é essa magia que me move.
 
O que é que o atraiu, Bruno, para esta peça, Tribos, onde faz de jovem surdo? 
Bruno – Não pensei nas personagens, mas mais no texto incrível, na discussão que a peça propõe e por nos dar tão bom teatro. Ela propõe uma discussão que para mim era complemente morta. Nunca tinha parado para pensar nas dificuldades da surdez, a forma como ela amarra alguém. Nunca tinha parado para pensar nessa falta de sensibilidade que nós vivemos com esta velocidade de informação, informações cada vez mais diluídas. É uma peça que nos emociona muito mas não deixa de divertir e entreter. É um prato cheio para teatro. E com grande personagens. Cada uma tem um momento brilhante na peça. É difícil encontrar textos em que digo: “é essa que quero fazer já!”  
 
Têm sentido esse amor pela peça da parte do público, no Brasil?
António – Tivemos mais de 70 mil espetadores. Fizemos no Brasil e vamos fazer em Portugal também, logo quando acaba o espetáculo trocamos de roupa e voltamos para um bate papo rápido e informal com a plateia. Temos percebido a reação da plateia ao espetáculo e a esta discussão paralela que o texto propõe, de uma forma muito ativa e interessada. Eles saem motivados do teatro. É maravilhoso.
 
O António já veio algumas vezes a Portugal. Qual a relação que com o país?
António – De paixão absoluta. Adoro Portugal, em todos os sentidos. É um país extraordinário, de grande beleza e uma cultura respeitável. Adoro o povo português. Tenho uma relação de muito carinho com Portugal. Vir para cá é um prazer multiplicado por mil e ainda fazendo um trabalho que eu gosto, vou ter prazer de mostrar ao público português. Espero que o público goste.
 
Ainda hoje sente-se acarinhado quando passa pela rua? Costumam abordá-lo?
António – Eu costumo brincar que sou mais conhecido aqui do que no Brasil e talvez seja verdade mesmo, porque eu levei 40 anos para fazer no Brasil acabou por passar aqui em 10 (risos). Eu soube que houve épocas que passaram dois ou três trabalhos meus ao mesmo tempo no ar, na televisão, é quase um massacre (risos). É uma overdose. Mas ao mesmo tempo é bom saber que eu resisti a isso, porque às vezes passa dois ou três trabalhos e eles não significativos.
 
Quando falam consigo na rua falam em alguma personagem em particular?
António – Varia muito, mas falam de muitas novelas. No outro dia me falaram de Vale e Tudo, que já é antigo. Falam de Dancing Days, O Rei do Gado, Terra Nostra.
 
Faz novelas desde 1969. O que mudou até agora? Foi mais a nível técnico?
 António – A profissão mudou muito também mas o nível técnico é radicalmente diferente. A qualidade de imagem que temos hoje não se compara ao que tínhamos há 10 anos. E continua a mudar. Mas no Brasil estamos a rever algumas coisas do formato da telenovela está a passar por uma reformulação boa, já que a tendência das novelas é ficarem menores, mais concentradas, com menos personagens. A TV Globo está a investir nessa pesquisa e já se vê o resultado em algumas novelas que já estão no ar, as novelas depois das 11 horas da noite já são um teste. A novela que fizemos juntos, Meu Pedacinho de Chão, é uma novela que estava fechada com 100 capítulos escritos e ficou só quatro meses no ar com poucas personagens e uma proposta de linguagem diferente. Estão a haver grandes modificações que serão para melhor.
 
O Bruno acompanhou o pai nas novelas, no teatro, em tudo isso. Como foi o embate com a profissão? Houve um choque? Tinha expetativas diferentes?
Bruno – Sempre acompanhei com distância, só observando. Mas quando comecei a estudar foi entendo a profundidade da profissão e percebendo que a nossa profissão é muito cruel mas ao mesmo tempo fascinante. Temos muitas variáveis com que temos de lidar o tempo todo, mas por isso é que temos de ser apaixonado para fazer o que fazemos. É só por afeto e paixão que nos desdobramos tanto para uma profissão que às vezes não nos dá o mesmo retorno. Quando fiz essa escolha fiz com muita maturidade, acho. Escolhi algo que me dá muito prazer até hoje por isso sinto que estou no lugar certo. Sinto-me muito bem fazendo o que eu faço. Não me vejo fazer outra coisa.
Entre a geração do meu pai e a minha houve uma mudança drástica da profissão. A forma de nos relacionarmos, as plataformas, o mercado de trabalho, a imediatez dos trabalhos e o rodízio de atores é muito maior, e a competição, o sistema de celebridades hoje é um factor que tem de ser levado em conta e dificulta muito. Mudou muito o que eu via ele fazendo e o que fazemos hoje, inclusive a relação direta com o espetador no teatro. Mudou o respeito do público pelo teatro, o interesse se diluí, porque hoje têm muito mais opções.
 
António – E algumas opções eles levam para dentro do teatro (risos).
Bruno – Eu ouço-o falar desse tempo de ouro do teatro e fico com uma certa tristeza por já não ser tão bom e não saber o que virá ainda mais para a frente. Mas ao mesmo tempo me dá uma vontade de tentar resgatar esses tempos, porque sei que há pessoas da minha geração que não tiveram o privilégio de ouvir as histórias do meu pai, de saber como era antes. Isso me dá uma responsabilidade de tentar resgatar esses tempos de ouro do teatro para o futuro.


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